Projetos

Em termos de objetivos operacionais, podemos dizer que, retrospectivamente, o GPCES tem se orientado pelas seguintes diretrizes:

  1. Resgatar os materiais didáticos em uso no período republicano nas escolas, tais como livros, instrumentos, carteiras, mapas etc, procurando identificar materiais escolares tais como, diários, cadernos, tinteiros, quadros, carteiras, uniformes, distintivos, etc.
  2. Recuperar os planos de reforma urbana da cidade da Parahyba (João Pessoa), nas últimas décadas do século XIX e primeira metade do século XX, analisando sua efetiva implantação e identificando as configurações espaciais da cidade e o lugar das escolas no contexto da expansão da Capital da Paraíba.
  3. Analisar a influência das reformas empreendidas nas cidades sobre a localização das escolas nos centros urbanos, localizando as escolas em mapas comparativos de diferentes tempos históricos e situar as reformas educacionais no contexto do processo de urbanização na Paraíba, especialmente, no que se refere à expansão das escolas primárias.
  4. Recensear a documentação oficial da Paraíba que contenha referências normativas aplicadas à educação e reconstruir o desenvolvimento dos programas das disciplinas escolares, traçando a evolução das disciplinas pedagógicas nas diversas escolas da Paraíba.
  5. Fazer o levantamento das ações educativas dos diversos níveis de governo, federal, estadual, municipal e da sociedade civil que contribuíram para a configuração da educação paraibana no período considerado.

A busca de fontes, documentais e iconográficas, tem sido realizada na Biblioteca da Universidade Federal da Paraíba, no Arquivo Histórico da Fundação Espaço Cultural do Estado da Paraíba, no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, no Arquivo Eclesiástico da Paraíba e no Arquivo da Assembléia Legislativa da Paraíba, complementada por pesquisas no Gabinete Português de Leitura do Recife, Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, na Biblioteca do Exército no Rio de Janeiro, no Arquivo Público do Estado de São Paulo, na Biblioteca Municipal de São Paulo e no Centro do Professorado Paulista.

Em 2003, o Grupo obteve aprovação do CNPq para desenvolver o projeto "Educação e Modernidade na Paraíba (1910-1930)", projeto este que viabilizou financeiramente para o GPCES, durante os anos de 2004 a 2005, a implantação de investigações específicas abrigadas em torno desse tema geral. Para além da produção científica e da formação de recursos humanos, este projeto contribuiu de modo significativo para a institucionalização do GPECS. A aquisição de equipamentos demandou a necessidade de espaço físico adequado para sua instalação. Isto contribuiu positivamente para que o Centro de Educação da UFPB cedesse uma sala para o Grupo.

O estabelecimento regular, a partir do início de 2004, de seminários mensais organizados pelo Grupo, deu maior visibilidade ao trabalho do GPECS na instituição, contribuindo para o engajamento em suas atividades de outros estudantes e professores. Nessas reuniões periódicas, destinadas prioritariamente às discussões prévias dos trabalhos a serem apresentados em conclaves científicos, trata-se de questões organizativas e de política científica, constituindo-se em momentos privilegiados para a gestão dos trabalhos desenvolvidos. Desta forma, o GPCES se consolidou na Universidade, agregando mais professores e atendendo alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado. Por outro lado, o andamento das pesquisas propiciou o estreitamento das relações do grupo com outros pesquisadores da UFPB, notadamente com a seção paraibana do grupo de pesquisa "História, Educação e Sociedade no Brasil". Em função do projeto, estreitamos nossas relações com grupos semelhantes de outros Estados, como o Centro de Memória da USP e o Núcleo de História, Memória e Política Educacional da UFC, o que resultou na organização de comunicações coordenadas e seminários, abrindo-se amplas possibilidades de intercâmbio futuro.

Em termos organizacionais, dividimos as ações em torno do projeto financiado em três subprojetos, internamente denominados abreviadamente como Escola, Igreja e Rua, cada um a cargo dos três professores doutores então pertencentes ao GPCES, respectivamente, Carlos Augusto de Amorim Cardoso, Wojciech Andrzej Kulesza e Doralice Satyro Maia. Independente dos resultados gerais obtidos pelo desenvolvimento dessa perspectiva como um todo, descritos na sequência, foram produzidos trabalhos relevantes no âmbito de cada um desses subprojetos nas respectivas áreas de conhecimento.

Assim, no subprojeto Escola buscou-se estabelecer o lugar da escola na cidade ao expor os percursos e sua localização, em particular da Escola Normal e do Lyceu Paraibano. A investigação comprovou que o processo de reajustamento urbano, imposto pela nova ótica disciplinar republicana, reivindicava uma cidade moderna. Desta maneira, o crescimento da cidade relacionava-se, tênuamente, com as reformas educacionais e as novas concepções organizativas. E é relevante que os prédios escolares construídos entre os anos 20 e 40 do século passado fossem uma tentativa de ajuste das reformas instrucionais ao crescimento urbano. Da mesma forma, confirmamos que a atualização formal do sistema escolar deu-se simultaneamente à introdução de modernos equipamentos urbanos, onde as reformas urbanas constituíram uma forma de apropriar a paisagem ao progresso e prender-se aos princípios fixados pelos educadores escolanovistas, que postularam, alguns anos depois, uma preocupação em não isolar a educação da vida comunitária. É desta maneira que a instrução generalizada necessitava de prédios ajustados às necessidades e à prática da escola definidas pelas reformas de ensino, uma reivindicação sistemática da elite paraibana. A existência material de um espaço urbano que se pretendia mais amplo para estimular as noções de progresso, de modernidade e de modernização, está realçada na transformação da escola como um centro de ressonância e amplificação da vontade de mudar, propiciando uma nova leitura do urbano, de uma nova cultura urbana a ser decifrada, cabendo à escola ensinar hábitos que ajudassem a interpretar tal realidade. Tais aspectos das realidades históricas da cidade e da educação foram discutidos em diversas reuniões científicas na área de educação e de geografia, abastecendo o exame da história da educação e da cultura escolar e da urbanização brasileira.

Por sua vez, o subprojeto Igreja trouxe à luz a força das relações entre as instituições católicas e a sociedade civil na Primeira República, geralmente consideradas tênues em muitos aspectos. Pode-se constatar, no caso da Paraíba, a clara delegação feita pelo Estado para que a Igreja Católica continuasse a cuidar das políticas sociais, papel tradicionalmente a ela atribuído no período imperial, especialmente no campo da saúde e da assistência social. Como foi demonstrado pela pesquisa, esta atuação foi estendida no período republicano à área educacional, havendo uma forte ingerência, evidentemente anticonstitucional, da Igreja Católica nas diversas esferas do ensino público a cargo do Estado, produzindo uma cultura escolar de feição tipicamente católica. Como temos argumentado nas diversas reuniões científicas da área de história da educação, o quadro levantado na Paraíba sobre a relação da Igreja Católica com a educação no período considerado, fortalece as críticas que tem sido feitas à clássica interpretação, divulgada pelos escolanovistas e mais particularmente por Fernando de Azevedo, que restringe a influência dominantemente católica na educação brasileira ao período jesuítico.

O subprojeto Rua reuniu um grande número de documentos oficiais que trata da normatização do espaço urbano, mais especificamente da cidade da Parahyba. A análise deste material revelou uma intensidade de transformações tanto na estrutura da cidade, bem como no cotidiano dos seus habitantes. No período analisado, grandes implementações foram concretizadas: o serviço de abastecimento de água, o esgoto sanitário, a energia elétrica e o bonde elétrico. Estes incrementos urbanos exigiram por sua vez transformações das ruas da cidade: alargamento das vias, alinhamento das edificações, construção dos passeios, postes, canalizações subterrâneas. Além disso, a pesquisa constatou o ideário de cidade moderna a partir das exigências por alguns incrementos urbanísticos e manifestações de descontentamento nos relatórios dos governantes por ainda presenciarem a "singeleza da cidade". Além disso, destaca-se a preocupação pelo ordenar, disciplinar e higienizar o espaço urbano, também expresso na documentação analisada. O ordenamento e o disciplinamento do espaço urbano, manifestam-se no alinhamento das ruas e na determinação das posturas urbanas. O higienizar está expresso nas exigências por limpeza dos espaços públicos e também das ruas, por edificações com melhores condições de ventilação e ainda por uma série de serviços de aterros das áreas alagadiças. Todo este conjunto de implementações manifesta a inspiração em dois grandes ideais: a Modernidade e o Higienismo. Ideais que surgem no século XIX, mas que nas primeiras décadas do século XX, fazem-se imprimir fortemente na então cidade da Parahyba.

Dessa forma, integrando esses achados parciais visando uma síntese progressiva, podemos dizer que os resultados das nossas investigações, em termos gerais, corroboraram a relevância da categoria "modernidade" para a compreensão da história da Paraíba no período considerado. As transformações flagrantes do espaço urbano da capital articulam-se num conjunto empírico consistente, no qual o "moderno" constitui uma matriz teórica de explanação ampla e diversificada. Assim, a consolidação de um mercado de trabalho livre essencial para a instituição de relações de produção capitalistas; a emergência de uma indústria de transformação baseada na tradicional produção agropecuária; a constituição de uma esfera pública centrada na figura do Estado, em oposição aos interesses exclusivamente privatistas, com a consequentemente viabilização da participação das oligarquias da Paraíba no cenário da política nacional, tudo isso pode ser lançado na conta da "modernização". Porém, para além da estrutura socioeconômica, a pesquisa desvelou a importância do "moderno" no cotidiano citadino, essencial para a formação de um habitus burguês e urbano.

A forma e a disposição interna dos edifícios, o alinhamento das ruas, o transporte público e os automóveis, a iluminação pública e o saneamento, a urbanização das praças, as novas formas de diversão como o cinema, o club e as revistas para mulheres, a moda e os "bons modos", enfim, toda gama de comportamentos "civilizados e modernos" se instaura na Paraíba nas primeiras décadas do século passado. Se bem que possamos remeter a gênese de muitos desses comportamentos a épocas anteriores, fato é que foi nesse período que eles se tornaram determinantes na regulação da vida social da Paraíba. Para manter estável a estratificação das classes sociais, o controle social exercido pelas classes dominantes procura, desde logo, disciplinar as relações sociais, especialmente o trabalho, através dos agentes sociais investidos nos órgãos públicos. É assim que se desenha no espaço urbano um sistema educacional que, mirando-se nas elites, procura assimilar os mais diversos grupos sociais, produtos eles mesmos da exacerbação do processo civilizatório, à maquinaria posta em ação em nome do mote republicano: "ordem e progresso". Mulheres e crianças, órfãos e marginais, futuros bacharéis e mestres artesãos, profissionais e domésticas, todos vão sendo recrutados, voluntariamente ou não, por essa instituição, ela também "moderna", chamada escola.

Credenciados pelo sucesso no desenvolvimento do projeto "Escola e Modernidade", obtivemos assim, em novembro de 2006, novo financiamento por parte do CNPq, agora para o projeto "Materiais Didáticos no Ensino Primário e Normal da Paraíba (1886-1930)", executado e posteriormente um novo financiamento para o projeto de pesquisa “Ensino de Geografia: materiais didáticos, autores e práticas escolares (Século XIX a 1940)”.

#Nome da linha de pesquisaQuant. de estudantesQuant. de pesquisadores
1 CIÊNCIA E EDUCAÇÃO POPULAR 0 1
2 DIDÁTICA URBANA 3 2
3 ENSINO PROFISSIONAL 0 2
4 GEOGRAFIA ESCOLAR E FORMAÇÃO DE PROFESSORES 5 6
5 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 4 8
6 HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS ESCOLARES 9 8
7 HISTÓRIA DO ENSINO DE CIÊNCIAS NO BRASIL 0 2
8 INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS 0 3