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UFPB realiza evento inédito sobre surdocegueira dia 28

Webinário comemora o Dia Internacional da Surdocegueira e alerta para as barreiras a serem quebradas
publicado: 16/06/2021 18h14, última modificação: 17/06/2021 11h30

Por Dina Melo 

Pela primeira vez, a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) vai promover um webinário sobre surdocegueira no próximo dia 28, em comemoração ao Dia Internacional do Surdocego (27 de junho), que marca o nascimento da escritora norte-americana Helen Keller (1880-1968). Keller é famosa por suas obras e palestras, numa época em que a segregação era um destino quase certo para as pessoas com deficiência. 

Descrição: foto em preto e branco mostra Helen Keller de pé, vista da cintura para cima, lendo um livro em Braille, que mostra para mim. Ela é branca, tem os cabelos grisalhos presos atrás da cabeça e usa um colar e vestido escuro. Atrás, prateleiras cheias de livros. Helen sorri. Crédito: Divulgação. 

A transmissão, que começa às 19h, pelo canal do Centro de Educação no YouTube, trará como convidados os professores José Carlos de Oliveira (da Universidade Federal de Uberlândia e integrante da diretoria da Associação Brasileira de Surdocegos), Shirley Rodrigues Maia (diretora educacional da Associação Educacional para Múltipla Deficiência e sócia-fundadora de cursos do Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensorial) e Karine Rocha (pedagoga e intérprete do Instituto Nacional dos Surdos). A mediação será da professora Adenize Queiroz, do Departamento de Habilitações Pedagógicas da UFPB, que é cega.

O debate, uma promoção do Núcleo de Educação Especial (Nedesp), lança luz sobre questões como capacitismo (a discriminação de pessoas com deficiência), as diversas formas de comunicação e o papel da sociedade no reconhecimento do potencial do múltiplo deficiente. As inscrições estão abertas pelo Instagram e a participação garante certificação. 

Surdocegueira

A surdocegueira é uma deficiência rara (estima-se haver 40 mil pessoas com esta condição no Brasil). Pode ser congênita ou adquirida e, ao longo da vida, comprometer mais um sentido do que o outro. Isto vai determinar as formas como a pessoa se comunica e os recursos que utilizará.

Descrição: foto colorida de sinalização tátil, uma das formas de comunicação com o surdocego. À esquerda, rapaz branco, de óculos, cabelos lisos, máscara e camisa preta apoia as mãos nas do guia-intérprete, que está à sua frente. O guia, que está em pé, é branco, careca e também usa óculos e camiseta preta. Crédito: Marcello Casal Jr, Agência Brasil.

 

Por isso a surdocegueira não significa a anulação da visão e da audição, como se tende a pensar; há quem não precise da Libras porque tem resíduo auditivo suficiente para conversar e há os que nascem ou ficam surdos e adotem a língua de sinais – ainda que sejam oralizados. Existem também os que sinalizam com o campo visual reduzido – neste caso com a ajuda de um guia-intérprete (é o caso do professor José Carlos de Oliveira).

A variedade de formas comunicacionais exploradas não para por aí. Pode-se usar também o Sistema Braille, o alfabeto dacticológico ou em letras de fôrma (desenhadas na palma da mão), as tablitas (tábuas com letras, números e caracteres em Braille), a CC TV (amplia em até 60 vezes o tamanho de uma imagem), o Tellethouch (equipamento que conjuga teclado comum com o de uma máquina Braille para estabelecer diálogo a dois numa mesa, por exemplo) e o Tadoma (método de decodificação dos sons baseado no movimento das bochechas, boca e cordas vocais. Era um dos que Helen Keller usava).

 

Diagnosticado depois dos 30

Aluno pré-concluinte do curso de Pedagogia, o pernambucano Jesaías Faustino tem Síndrome de Usher, uma doença hereditária responsável pela perda auditiva e visual gradativa (neste caso, devido à retinose pigmentar). “Minha mãe teve um parto muito difícil e eu sofri com falta de oxigenação no cérebro. Então, o médico já lhe alertou que eu poderia ter algum comprometimento no futuro”, conta. 

Descrição: Jesaías é um rapaz moreno, de cabelos curtos e encaracolados e sorriso largo para mim. Está de terno azul-marinho, camisa branca e gravata listrada alvi-rubra, posando em pé, ao lado de um espelho, que o reflete da cintura para cima. Atrás dele, uma porta de madeira. Crédito: Arquivo pessoal.

“A audição eu perdi aos 8 anos, época em que fui encaminhado para tratamento fonoaudiológico. Mas a dificuldade de enxergar só senti mesmo depois dos 25, quando já trabalhava nos Correios. Eu sofria com episódios de escuridão total. Mas o diagnóstico só veio depois dos 30”, lembra ele, que usa aparelho auditivo, Libras, lupa e faz leitura labial. Jesaías, hoje aposentado, preserva apenas a visão central de forma limitada.

“A criança surdocega tem que ter acompanhamento multiprofissional e contínua estimulação familiar em casa para o seu desenvolvimento, de acordo com as suas necessidades. Temos que a trabalhar não para o hoje, mas para o amanhã, focando nas condições de acessibilidade”, diz Lenice Carneiro, pedagoga e psicopedagoga do Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez (CAS) da Funad.

Ao chegar à Fundação Centro Integrado de Apoio ao Portador de Deficiência, no Bairro dos Estados, o usuário passa por uma triagem e é encaminhado ao setor de Serviço Social, que o direciona, por sua vez, às coordenações encarregadas pela reabilitação. As sessões estão acontecendo remotamente.