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Pesquisadores da UFPB criam jogo para crianças aprenderem Braille

Dispositivo lúdico permite alfabetização e desenvolvimento de habilidades táteis
publicado: 30/06/2020 12h01, última modificação: 30/06/2020 12h02
Peças com formas de coisas do cotidiano para encaixe contêm nome em Braile, em caixa alta e em alto-contraste. Crédito: Maryana Tavares/ Programa SolidWorks

Peças com formas de coisas do cotidiano para encaixe contêm nome em Braile, em caixa alta e em alto-contraste. Crédito: Maryana Tavares/ Programa SolidWorks

Por Aline Lins
Ascom UFPB

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolveram um dispositivo para auxiliar no aprendizado de crianças cegas ou com baixa visão. Por meio da ferramenta lúdica, é possível alfabetizar em Braille, explorar habilidades táteis e reconhecer formas 2D (em duas dimensões).

A tecnologia associativa, patenteada pela Agência UFPB de Inovação Tecnológica (Inova) e criada em parceria com o Instituto de Cegos da Paraíba, em João Pessoa, é constituída de um tabuleiro com espaços quadriculares para o encaixe de peças que representam coisas do cotidiano.

Cada peça contém o nome  da respectiva forma, tanto em Braille, para crianças cegas, quanto em caixa alta e em alto-contraste, para crianças com baixa visão.

O produto é feito de polímero ABS, um material emborrachado e flexível. Antiderrapante, oferece mais aderência no manuseio, impossibilitando a projeção do dispositivo para frente ou para as laterais.

Para desenvolver o tabuleiro, as pesquisadoras Joele Marques, Catharine Sanches e Maryana Tavares, sob orientação do professor do Departamento de Engenharia de Produção Fábio Borges, buscaram entender quais as necessidades e barreiras encontradas durante o processo de ensino de pessoas com deficiência visual.

O levantamento apontou dificuldade de encontrar brinquedos inclusivos. Até mesmo os educativos não eram completos. Quando identificados, os brinquedos inclusivos apresentaram elevado custo em comparação a produtos similares e direcionados para pessoas que enxergam normalmente.

O professor Fábio Borges destaca que o dispositivo é ao mesmo tempo um brinquedo e uma ferramenta, unindo diversão e aprendizagem, o que potencializa o desenvolvimento das crianças.

“Para as crianças com deficiência visual, isso é muito mais gritante, porque elas não têm a interação que nós temos com o mundo. Então, a parte lúdica de perceber que eu estou aprendendo o Braille por meio de uma brincadeira, de um jogo, facilita não só a aprendizagem em si, mas o apego, o querer brincar para aprender”, conta o professor.

De acordo com os pesquisadores, o uso da tecnologia assistiva é de grande importância para promover a integração e a independência das pessoas com deficiências visuais. Tecnologia assistiva consiste em uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas funcionais encontrados pelas pessoas com deficiências.

Maryana Tavares, uma das pesquisadoras que criou o dispositivo, ressalta a importância da invenção. “A ferramenta proposta traz o aspecto lúdico à aprendizagem do Braille, com o objetivo de torná-la simples, divertida e possível de ser compartilhada com outras crianças”.

Para ela, além da aprendizagem divertida, a ferramenta pode proporcionar interação entre as crianças usuárias e, consequentemente, mais inclusão e integração à sociedade, valores que compõem o cerne da tecnologia assistiva.

O estudo foi realizado considerando dados do Censo Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontavam que 21,8% da população paraibana possui alguma dificuldade visual, mesmo com auxílio de óculos e lentes de contato. Isso equivale a 823 mil pessoas, das quais 142.196 possuem deficiência severa e 8.477 são cegas.