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Estudante cria impressora Braille que responde a comando de voz

O usuário digita pelo computador, envia um arquivo de texto pelo celular ou dita as palavras, e o conteúdo é impresso automaticamente em alto relevo.
publicado: 04/10/2019 14h26, última modificação: 04/10/2019 14h31

Por Bárbara Forte
Fotos: Divulgação
Do site Ecoa, via Portal UOL

Com apenas 19 anos, a estudante de engenharia Bruna da Silva Cruz criou uma impressora capaz de reproduzir textos em Braille, o sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão. O usuário digita pelo computador, envia um arquivo de texto pelo celular ou dita as palavras, e o conteúdo é impresso automaticamente em alto relevo.

 

A invenção rendeu à jovem de Novo Hamburgo (RS) o segundo lugar no Prêmio Jovem Cientista 2019, que reconhece as pesquisas científicas e tecnológicas desenvolvidas por alunos de escolas de ensino médio e da educação profissional de nível técnico do estado. A relevância do protótipo criado por Bruna é reforçada pelo número de potenciais usuários: o Brasil tem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual - 582 mil são cegas e 6 milhões têm baixa visão, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A oferta de obras literárias em Braille, porém, contempla uma parcela mínima dessa população. De acordo com a União Mundial de Cegos, representante de aproximadamente 253 milhões de pessoas com deficiência visual de organizações em mais de 190 países, cerca de 5% das obras literárias no mundo são transcritas para Braille nos países desenvolvidos. Já nos países mais pobres, esse número é de 1%.

"O que me motivou a fazer esse projeto foi unir as habilidades que eu estava desenvolvendo no curso técnico de mecânica à solução de um problema. No meu caso, entendi que a criação da máquina ajudaria na autonomia e independência de quem tem deficiência visual", explica a estudante.

Fast Braille

O protótipo criado por Bruna, chamado de Fast Braille, funciona como uma máquina de escrever e uma impressora: "O usuário, seja cego ou não, usa o teclado de computador convencional para escrever os textos. Depois, ele manda imprimir, por meio da tecla 'enter', e os dados são enviados à máquina, para onde o conteúdo é compilado, transformado em Braille e impresso", explica Bruna.

 

No caso do celular, o princípio é parecido: "Por meio de um aplicativo, o usuário seleciona o arquivo que ele quer imprimir e clica em 'Enviar'. Já para reconhecimento de voz, a pessoa tem um botão que, ao ser pressionado, ouve o comando, transcreve e envia para a impressora".

Mais leve e barata

De acordo com Bruna, a impressora ainda permite que esse tipo de equipamento seja mais acessível ao público. "Há máquinas parecidas? Há. Mas, de acordo com minhas pesquisas, são muito caras e pesadas e não costumam ter tantas funções em um produto só", afirma. O protótipo desenvolvido pela estudante teve um custo de produção de cerca de R$ 1 mil. Em larga escala, segundo ela, o valor final não deve passar de R$ 3 mil - custo médio de um notebook -, o equivalente a um terço do valor encontrado no mercado.

Segundo Eliana Cunha, coordenadora da área de educação inclusiva da Fundação Dorina Nowill para Cegos, os modelos de boa qualidade disponíveis são caros e importados: "Os valores variam, mas um bom produto custa em torno de R$ 9 mil e costuma vir de países como EUA, Alemanha, Suíça e Espanha". Para Eliana, a iniciativa da estudante pode ser um grande avanço na inclusão dos cegos.

"O Braille é fundamental para a leitura em papel. Ter liberdade para escrever e imprimir garantiria mais acessibilidade", comenta. A impressora criada pela jovem também promete ser mais leve que as já existentes. "Meu modelo pesa em torno de três quilos, enquanto as máquinas do mercado têm entre 5 e 15 quilos", declara.

Rumos do projeto

"Além do Prêmio Jovem Cientista, inscrevi o projeto em outras iniciativas de incentivo dentro e fora do país com o objetivo de espalhar a ideia e encontrar formas de torná-la possível", diz Bruna sobre o futuro do projeto. Ela conta que a empresa onde trabalha atualmente mostrou interesse na ideia: "Pretendo incubar as pesquisas referentes ao protótipo na universidade e, quem sabe, ver em breve o modelo nas mãos das pessoas", conclui.